26.4.08

"O Papalagui"


Nome de personagem de desenho animado. É assim que classifico o nome que nos é dado por Tuiavii. Não só pelo nome em si, mas também pelo que ele simboliza.
O livro “O Papalagui”, representa, de entre tudo o que eu já vi escrito e tudo o que já ouvi dizer de nós ocidentais, a maior critica alguma vez feita. Sobre o ponto de vista de um chefe de tribo, a de Tiavéa – mares do sul – um indígena, com crenças muito fortes no “Grande espírito”, aceitando tudo aquilo que ele o envia sem questionar, ou até mesmo pensar nisso.
Dizemos nós que vivemos numa civilização. Ora bem, civilização significa estado do progresso e cultura social. Civilização é uma palavra derivada do verbo civilizar, que por sua vez significa tornar civil, educar.
Não sou uma pessoa vivida, com experiências que possam surpreender ninguém, mas desde que me lembro de mim a palavra educar era sempre utilizada num bom sentido, no sentido da educação, da boa educação, e que daí derivam atitudes, importantes numa sociedade, como o respeito. Pelo menos é assim que normalmente somos educados. Respeito por tudo e todos. Mas isso é coisa que este indígena acha que não existe onde vivemos. Não acho que seja generalizável, mas não deixa de ser uma realidade.
Este livro, demonstrou-me que o acto de educar também tem o seu lado negativo, pode-se educar para o mal também, e não precisamos de ir ao Oriente, ver, por exemplo aquelas crianças a serem treinadas para matar. Elas estão, de certa forma a ser educadas, e também por definição, estão a ser civilizadas. Simplesmente são culturas diferentes, valores diferentes, modos de levar a vida diferentes (que não deixo de repugnar).
Tuiavii usa estas frases:
· “A verdadeira divindade do homem branco é o metal redondo e o papel forte a que ele chama dinheiro”.
· “O Papalagui é pobre porque está obcecado pelas coisas. Já não pode passar sem elas.”
· “Correm desvairados de um lado para o outro como se estivessem possuídos pelo aitu[1].”
Será que ele não tem razão ao dizer isso sobre nós? Será que nós não passamos os dias obcecados por tudo e por nada, obcecados demais por coisas supérfluas não olhando, muitas vezes para quem nada tem? Ignorando estes, por vezes, como se de uma espécie inferior fossem? Será que nós, por vezes, ignoramos essas críticas exactamente por elas serem o nosso “calcanhar de Aquiles”?
A vida faz-se caminhando, como já à muito o ouvimos. E nós viemos do mesmo, caminhamos para o mesmo, somente tomamos caminhos diferentes nesta longa caminhada que é a vida. E isso faz com que a espécie humana seja a espécie animal com mais subespécies do mundo? Pois não deveria ser.
Será que a nossa cultura social e a nossa civilização são as melhores? Será que somos nós que estamos certos?

[1] Diabo